segunda-feira, 23 de março de 2009

Depoimento de um papai solteiro

Meu nome é Otávio, tenho 30 anos, morador de Belo Horizonte – MG. Fui pai aos 29 anos, de uma linda mocinha, à qual demos o nome de Marina. Eu gostaria que ela se chamasse Giordana, e a mãe dela, que se chamasse Luísa. Como não chegamos a um acordo, aceitamos a sugestão de uma prima, única que agradou a “gregos e troianos”.

Nunca planejei ser pai. Pensava no assunto, mas com a intenção de ter uma vida totalmente estruturada antes de me dedicar à empreitada, pois então poderia planejar com calma, tempo, recursos e qualidade. Isso não quer dizer que ao saber que iria ser pai, a gravidez não tenha passado a ser desejada, e a experiência durante aquele período, e mesmo após o nascimento, ter sido a mais virtuosa e sublime pela qual passei.

Minha ex-esposa já havia sido mãe, com 19 anos, e comecei a namorá-la quando sua pequena ainda contava 09 meses. Após o nascimento, parece-me que ela ainda manteve o relacionamento com o pai da menina, o que veio a acabar depois, e em pouco tempo iniciamos o nosso relacionamento, devido à iniciativa dela, em Agosto de 2005. Devido a diversas questões, já havíamos terminado o namoro algumas vezes, e quando terminamos em Agosto de 2006, ele me informou que estava “atrasada”. Pedi para que ela realizasse o exame, não sem antes conversarmos – ocasião em que ela me disse que se a gravidez se confirmasse, ela sairia de casa. Imediatamente, disse-lhe que se a gravidez se confirmasse, nós nos casaríamos se assim ela concordasse. Acreditava, à época, que amasse aquela pessoa o bastante para que pudéssemos constituir uma família, ela, sua filha, eu e a nova criança que estava para chegar. Ela só me apresentou o resultado do exame (que já veio em forma de ultra-som – 11 semanas de gestação), no final de Outubro do mesmo ano, o que durante o período me deixou cheio de incertezas, dúvidas e medos.

Desde então, passei a participar ativamente do acompanhamento da gestação, curtindo cada consulta, para que não houvesse prejuízo do desenvolvimento daquela criança, que eu ansiava por ter nos braços. Junto a isso, passei a trabalhar para que os trâmites necessários à realização dos casamentos civil e religioso fluíssem, bem como a estruturação de um lar que não existia (recursos para isso também não existiam...), acontecessem antes da chegada de nossa pequena.

Tudo correu a contento. Casamos-nos em Fevereiro de 2007. Marina veio à luz em 25 de Abril do mesmo ano, no período correto da gestação (apesar de a médica dizer que não passaria do dia 15 – o que me deixava extremamente ansioso, pois cada dia que se passava, era um dia a mais de espera...). Ela estava linda, muito calma, parecia a tradução da paz.

Nosso casamento sofreu algumas turbulências, creio que algo normal para qualquer casal. Em Dezembro de 2007 minha ex-esposa pediu para que nos separássemos. Conseguimos reverter a situação, o que não foi possível em Fevereiro deste ano, o que culminou com nossa separação. Ela retornou para a casa da mãe, levando consigo a pequena Marina. Isso aconteceu de forma muito “civilizada”, consensualmente (não sem antes, é claro, eu passar por uma fase de revolta – pois somente nos ensinam a buscar o sucesso, mas ninguém nos ensina a lidar com o fracasso, principalmente de uma relação “amorosa”). Exatamente quando Marina contava exatos 09 meses...

Tenho plena consciência hoje, de que minha decisão pelo casamento foi porque não queria simplesmente registrar minha filha. Queria participar ativamente de sua criação, educação e formação de caráter moral e ético. Hoje isso me foi limitado, para não dizer tirado. Não e possível dizer que o exercício do direito de visitas é algo que seja suficiente, pois ser tolhido do direito sagrado de estar ao lado dos filhos em momentos como os primeiros passos e primeiras palavras não pode ser comparado à frieza de passar somente alguns momentos com a criança, com horários e dias marcados, ou ainda datas de início e fim...

Quem garante que pequenas coisas como participar da escolha de uma babá, de uma escolinha, ou de um passeio não são essenciais para um pai? Ou pior, saber por terceiros que a babá em quem você confiava foi embora, com reclamações de intolerância racial e religiosa, e ter consigo a idéia de que sua filha está sendo criada por pessoas de moral duvidosa, crescendo em um ambiente racista e preconceituoso, não são motivos para deixar um pai preocupadíssimo, pois, apesar de ser de primeira viagem, foi experiente o bastante para tomar uma postura moral digna e assumir para si as irresponsabilidades de alguém que não pensou no futuro. Já que o Direito de Família não parece fazer jus à expressão de que o “Direito é um ideal de Justiça”, resta esperar para que seja realizada alguma “justiça poética”...

Se fiz alguma coisa certa, espero que tenha sido para o bem da Marina. Contudo, prefiro crer que somente os erros foram meus. E que um dia, algumas mágoas passem, para que o mundo fique um pouco menos obscuro.



Otávio, muito obrigada por compartilhar com a gente a sua história. O seu depoimento foi muito importante para todas nós, pois toda história tem dois lados e com essa história vimos o "outro lado da moeda"
Abraços
Tati

3 comentários:

Alice disse...

Cada dia q passa adoro mais o blog! E agora contando a história de um pai solteiro então, foi maravilhoso!!! Várias histórias, alguns pontos semelhantes, outros totalmente diferentes..... Esse blog ainda vai ajudar a mtas meninas q ainda se verão sozinhas, como aconteceu conosco!

Anônimo disse...

Aline...

Gente me senti muito bem em deixar aqui uma parte de minha historia... Adorei ler a historia do pai nossa... todos os pais poderiam ler isso! Pois so vendo uma experiencia para saber o pq nois mães sofremso com o despreso deles.. nao pensamos na gente mais sim no futuro de nosss pinpolhos que realmente sofrem com a falta deles!!!!
Fico lindo mesmo esse blog espero poder postar tambem aqui minhas experiencias a cada dia...

Otávio Carvalho disse...

Oi's, Aline e Alice! É como eu havia dito: infelizmente o Direito de Família, ainda que tenha sido modificado substancialmente em função a reforma do Código Civil de 2002, não observa muitas coisas. O que dizem no âmbito da 'Academia' é que o Direito de Família está para a mulher, assim como o Direito do Trabalho está para o empregador...

Fico triste por mim e minha Filha, mas feliz de saber que ainda existem mulheres Responsáveis que sabem O Que É ser MÃE!

Fortes abraço e beijo.

Ota.